Conheci Carlos Evandro Luz pessoalmente nos idos de 2004. Até então, conhecia apenas a lenda. Um homem que quando eu nasci, já prestava serviços públicos há anos como Delegado. Que quando eu engatinhava, já pontificava como uma grande e ascendente liderança política caçadorense. Conheci Carlão justamente em uma disputa eleitoral em que estávamos em lados opostos. E, a partir de então, tive o prazer de desfrutar de sua companhia e de sua sabedoria ao longo dos muitos anos seguintes.
Não só eu, é claro: Caçador teve a honra de contar com os serviços de um homem público completo, como raras vezes é possível encontrar. Carlão reunia em sua personalidade o refinamento do homem do Direito, um jurista com vasto cabedal de conhecimentos e uma vasta cultura geral que os complementava e dava sentido à sua aplicação. Carlão também era o homem com o conhecimento da dureza da vida nas ruas, da dura lide como Delegado. Ao mesmo tempo, Carlão era o tribuno fervoroso e equilibrado, que não fazia cálculos mesquinhos para defender suas ideias de público.
Uma personalidade tão intensa, certamente granjeou antipatias ao longo da vida. Mas, não tenho a menor dúvida, mesmo aqueles que não gostavam de Carlão reconheciam sua grandeza. Na vida, assim como na guerra, nossas vitórias não são medidas apenas em comparação a nós mesmos: só podem ser devidamente mensuradas com a grandeza dos obstáculos e adversários que enfrentamos. Sendo assim, aqueles que se opuseram a Carlão certamente também saíram engrandecidos ao enfrentar uma personalidade tão grandiosa.
Quando comecei a militar no jornalismo e escrever colunas sobre política, não foram poucas as vezes em que eu mesmo teci críticas à posicionamentos ou ações do Dr. Carlos. Nunca, em nenhuma destas ocasiões, recebi dele algum tipo de queixa. Nem tampouco o receberam os proprietários dos veículos em que trabalhei. Entretanto, na primeira vez em que o elogiei, recebi um e-mail com generosos agradecimentos, nos termos mais carinhosos possíveis. O modo como tratava a divergência também o definiu.
Recebi de pessoas próximas a notícia do delicadíssimo estado de saúde do Dr. Carlos, como gostava de chamá-lo sempre que nos encontrávamos, há coisa de dois ou três meses. Pensei se devia ou não encontrar em contato, mandar uma mensagem, uma palavra, qualquer coisa. Assim como tenho pensado desde ontem, quando soube que ele havia nos deixado, se devia deixar alguma palavra. Mesmo recalcitrante, decidi que ele merecia. E, mais do que isso, eu devia isso a um líder com quem pude conviver, aprender e crescer.
Viver exige trabalho. E conforme os anos passam, o trabalho se torna maior. Porque o passar dos anos faz o triste trabalho de levar figuras queridas e que tanto presamos. E, desculpem-me os jovens, é ainda mais triste quando um menino de apenas 63 anos nos deixa. Mas se deixarmos um pouco de lado o cálculo arbitrário da mera passagem dos dias e medirmos a vida dos homens pelo impacto que seus atos deixam, a vida de Carlão certamente foi vivida de maneira completa.
Recentemente temos perdido figuras icônicas e referenciais em Caçador. Há pouco mais de dois anos foi Onélio Menta, com quem Carlão protagonizou uma ferrenha disputa por anos, até terminar como seu candidato à sucessão em 2004, pelo mesmo PMDB por quem Menta militou a vida toda. Agora, é o próprio Carlão quem nos deixa. Neste sentido, faço questão de destacar a grandeza do prefeito Saulo Sperotto, reconhecendo com o devido luto oficial a falta que Carlão nos fará.
Descanse em paz, Dr. Carlos. O Carlão, seu apelido com aumentativo, define bem o que foi uma grande e produtiva vida.
Uma vida que certamente valeu à pena. Para o senhor e para todos nós que tivemos o prazer de seu convívio.
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