A reportagem do Caçador Urgente entrou em contato com o Dotô Rodrigo Rocha, que atua no Pronto Atendimento do Jonas Ramos de Caçador, para saber das dificuldades encontradas por ele e outros profissas em um setor público, a saúde de Caçador em relação administração municipal.
O QUE VOCÊ ACHOU DA NOTA QUE A PREFA MUNICIPAL DE CAÇADOR ENVIOU A SEU RESPEITO?
Fui aprovado e convocado para diversos concursos públicos, inclusive Florianópolis e Blumenau, optei por sair de Florianópolis para trabalhar no interior do Estado devido a carência de médicos nessa região. No entanto, estou perplexo com a forma que o poder público em Caçador tem tratado os profissionais. Entre o final do ano passado até o momento, já foram embora 3 médicos que trabalhavam no Pronto Atendimento.
"Em relação ao horário de postagem" escrito no início da nota, o médico que faz um plantão de 12h tem 1 hora para jantar ou almoçar.
Penso que no meu horário livre posso jantar, acessar o facebook ou ver e-mails ou telefonar para alguém, enfim, ou o trabalhador não tem livre escolha do que fazer na sua hora de pausa?
Em relação a Falta de Pagamento do adicional noturno é a Prefeitura quem deve pagar, é de responsabilidade do executivo (PREFEITO), independente se foi ou não da gestão passada ou de rivalidades partidárias, não conheço o antigo ou atual prefeito, mas se é direito recebermos devemos cobrar. E sendo remanescente de 2016 avalio que o pagamento já deveria ter sido efetuado, ou será repassado para o próximo prefeito? Ainda em relação a pagamento, um dos médicos concursados entrou de férias no mês passado, retornou ao trabalho e até o momento espera o recebimento do correspondente as férias. Fico pensando, o que esperar de uma gestão, se um simples pagamento de férias ou de adicional noturno estamos tendo tamanho estresse para receber?!
Em relação ao assédio moral foi comprovado, protocolado , no entanto nada foi feito até o momento pelo Prefeito e segundo o secretário de saúde, que procurou-me após a repercussão, nada será mudado. Tirem suas conclusões.
Recentemente, escala de trabalho / plantão de JUNHO, além da redução da minha jornada, fui colocado para trabalhar em um dia que eu não posso, sendo que eu já havia informado meses antes da impossibilidade via protocolo registrado em dezembro e enviado dois e-mails reforçando e também comunicado a gestora através de WhatsApp, como posso comprovar, no entanto, sem sucesso. Deixarei pacientes psiquiátricos que eu acompanho em Porto Alegre para outro médico, para estar atendendo no PA no sábado.
Qual a lógica de colocar em um determinado dia um servidor que comunicou antecipadamente não ter disponibilidade ? O estresse não é único do servidor, penso também ser do serviço como um todo, com reflexo nos pacientes caso falte um médico. São essas pessoas que estão na Gestão e Coordenação do Pronto Atendimento. Nossa intenção como servidores da saúde é ter um local digno e respeitoso para trabalhar. Afinal, o concurso que fizemos nos garante estabilidade, muitos servidores estão a mais de uma década trabalhando no PA e esperam se aposentar naquele serviço. Os funcionários devem exigir e lutar por melhores condições de trabalho, ambiente digno, afinal é o local onde exercemos nossa profissão, onde passamos boa parte do nosso tempo e consequentemente muitos passaram a sua vida inteira profissional.
Em relação ao que foi escrito da conversa com a "Gestora Cristiane Santi, ... o médico Rodrigo Rocha pediu para ter uma conversa exigindo algumas questões ilegais por parte da Secretaria". É MENTIRA, é inadmissível que mentiras sejam colocadas dessa forma. Eu GRAVEI a conversa que tive com a Gestora e desafio provar as ilegalidades que a mesma refere.
Apesar das mentidas, assédios para forçar pedido de demissão de médicos concursados, precariedade do local que trabalhamos, o que mais me espanta é o PREFEITO não tomar medidas. Eu não voto em caçador, porém, na época da eleição era perceptível a torcida de muitos servidores do Pronto Atendimento pelo Sr. Saulo, assim como hoje é nítida a decepção. Inclusive da minha parte.
Solicitamos através de oficio uma reunião dos servidores com o Prefeito, a Gestora do Pronto Atendimento tomou conhecimento, no entanto, não houve a reunião. Reitero convite ao Prefeito para uma reunião com os funcionários públicos do serviço. Se desejar agendar para a próxima terça-feira as 18horas peço que comunique aos servidores para que possam estar presentes.
" O PA realiza mesmo em torno de 300 atendimentos diários e esses números vêm aumentando consideravelmente nos últimos dias por conta da chegada do inverno. Por mês, estão sendo realizados mais de 6 mil atendimentos". A própria prefeitura confirma o enorme volume de atendimentos prestados, muitas pessoas criticam servidores enfermeiros e médicos, mas não olham o quanto essas pessoas trabalham, 2 médicos e uma equipe de enfermagem reduzida atender 300 pessoas dia é descabido. É evidente que essas condições são as piores possíveis para todos profissionais de saúde que trabalham no local. É uma superlotação de pacientes versus uma equipe subdimensionada, gerando grande estresse em todos, que trabalham além do limite físico e intelectual para bem atender os pacientes, que por sua vez também estão estressados devido a sua condição de saúde e falta de serviço de saúde adequado.
Trabalhar nessas condições é colocar-se em risco constante para questões éticas, legais e judiciais.
A responsabilidade por enviar esses pacientes ao PA não é da Prefeitura. Óbvio. Mas cabe a prefeitura contratar mais servidores para atender a demanda, penso que não só no PA mas também nas UBS.
Após o ocorrido houve uma melhora no serviço de limpeza com contratação de empresa terceirizada. Mas infelizmente, não é o suficiente.
Sugiro um estudo com dados clínicos, bairros dos pacientes que mais procuram o serviço, etc, para que trabalhos possam ser realizados nessa direção. Até lá, no mínimo, precisamos de uma gestão eficiente, respeitosa e que sejam colocados mais servidores (Médicos, enfermeiros e técnicos). Avalio como importante também o investimento na qualificação dos servidores do Pronto Atendimento, para que estejam melhor preparados para atendimento as urgências.
A UPA é uma unidade de saúde de média complexidade, entre as unidades básicas de saúde (POSTO DE SAÚDE) e o Hospital. A Resolução CFM nº 2.079/14 (https://portal.cfm.org.br/images/PDF/resolucao2079.pdf) é clara na obrigatoriedade da implantação do Acolhimento com Classificação de Risco em uma Unidade de Pronto atendimento, o que não ocorre em todos os turnos no PA de Caçador devido a falta de profissionais. Importante também salientar que não é qualquer profissional com perfil para aquele serviço, e ao remanejar profissionais de outras unidades isso deve ser levado em consideração. A quantificação (número adequado de funcionários) e qualificação dos profissionais também deve ser trabalhada pela gestão. A resolução utiliza como referência 3 atendimento/hora por médico, inclusive cita um exemplo matemático:
"utiliza-se como referência desejável o máximo de três pacientes por hora/médico"... e exemplifica de forma matemática para o planejamento do número de médicos a serem contratados, de maneira a evitar o subdimensionamento da equipe médica, demora para o atendimento e sobrecarga de trabalho médico" .
No entanto, a nossa realidade no Pronto Atendimento de Caçador está longe do ideal, como já relatado há uma superlotação de pacientes versus uma equipe subdimensionada. Em muitos momentos um médico atende mais de 15 pacientes hora. O risco de falhas é grande dependendo o grau de estresse, cansaço mental, etc, além de outros problemas já relatados. Muitos profissionais estão trabalhando no seu limite.
VOCÊ VAI TOMAR ALGUMA ATITUDE ?
Sim, não só eu como os demais médicos concursados no serviço, contratamos um advogado, comunicamos 2 vereadores para que levassem para a câmara, levamos denuncia ao MP, Sindicato dos funcionários públicos de caçador e Solicitei abertura de sindicância, devido essas e outras questões obscuras que precisam ser investigadas.
SOBRE A SUA REDUÇÃO DE HORAS O QUE VOCÊ DIZ A RESPEITO?
A resposta que obtemos é que não há definida uma carga horária mínima ou máxima para o cargo de médico plantonista no concurso, ficando a critério da gestão dar ou não horas de trabalhos aos médicos concursados, ainda falaram que o concurso foi feito por obrigatoriedade do MP. Isso deve ser reavaliado pelo legislativo e executivo.
Qual a lógica de um concurso público, onde 4 médicos foram aprovados, assumiram e agora tem sua jornada e salário reduzido e repassado para outros profissionais credenciados?
Não houve o menor respeito, ao reduzir a jornada de trabalho dos profissionais de carreira, com o impacto que isso poderia acarretar na vida financeira dos profissionais.
Temos observado que a prefeitura tem trabalhado de forma a forçar nosso pedido de demissão.
A prefeitura tem contratado profissionais credenciados e colocados profissionais concursados em segundo plano. Quando falei que levaria para a Câmara esse assunto, houve um comentário que diz que não será um ou dois vereadores que vão mudar as coisas, espero honestamente que o legislativo reveja essas questões de saúde como prioridade. Afinal, O QUE VOCÊ FAZ SEM SAÚDE? E além de fiscalizar, crie leis que dêem ao servidor público de carreira mais segurança, por exemplo, preferência na escolha de turnos, quando esses estiverem disponíveis para preenchimento de futuros funcionários que serão contratados.
E SOBRE AS SITUAÇÕES QUE VOCÊ VIVENCIOU NO PRONTO ATENDIMENTO COM O DESCASO DA PREFA MUNICIPAL?
O descaso com a saúde pública infelizmente ocorre em todo o Brasil, vemos isso diariamente nos jornais em várias cidades e Estados. Em Caçador a parte hospitalar por exemplo é prestada por um hospital filantrópico criado por uma congregação religiosa. Onde está um hospital público do Estado na região? Joaçaba? Fraiburgo? Videira? Caçador? Não há. São hospitais que acabam sendo criados para suprir uma carência do Estado e muitos hospitais recorrem ao auxilio da sociedade para arrecadar fundos para cobrir despesas.
No entanto, quando um dos nossos representantes na política necessita de atendimento médico, onde procuram atendimento? No Hospital Sírio Libanês ou nos Hospitais públicos como Hospital Regional de Taguatinga, Hospital de base em Brasilia onde diversos jornais estamparam o caos. Infelizmente pagamos uma alta carga tributária e o que temos? E quem paga a conta? O Governo não cumpri o seu papel de fornecer o básico, saúde, educação e segurança, três áreas que assistimos diariamente a precariedade.
Então a estrutura do PA é apenas mais uma dessas, mas como cidadão, contribuinte, médico, servidor público, não posso e não ficarei calado ou de braços cruzados. Vou sim cobrar melhorias, e espero que a população, em especial os mais carentes e funcionários públicos façam o mesmo, exigir que o candidato eleito faça seu papel, seja como vereador, prefeito, governador. Ele se colocou a disposição para servir e não ser servido como tem acontecido na política, o povo serve os eleitos com toda assistência possível e fica desassistido.
O eleitor tem que amadurecer e lutar para que melhore. Lutar quando está doente e precisa do hospital e não tem forças é tarde. Já vi muitos pacientes na fila aguardando cirurgia piorar e morrer na espera. O SUS tem que receber investimentos e melhorar seu funcionamento em Caçador e em todo o Brasil.
Por fim o Dotô Rodrigo Rocha, agradece as inumeras manifestações de apoio de colegas, pacientes e desconhecidos que recebeu.
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